Estresse hídrico: entenda como minimizar prejuízos na sua lavoura

A crise hídrica que passa o Brasil já afetou a produção de grãos de nosso país, com a Conab fazendo previsões de redução da produção total.

Ver a lavoura seca em campo e produzindo mal é uma das consequências do estresse hídrico, o que nenhum produtor deseja ver na sua área.

Apesar das condições climáticas serem impossíveis de controlar, nós podemos minimizar prejuízos com algumas práticas que favorecem a umidade do solo e a melhor utilização da água. Confira a seguir!

Selecione cultivares mais tolerantes ao estresse hídrico

Nas principais culturas comerciais temos cultivares selecionadas que toleram mais o estresse hídrico. Verifique na empresa de sua confiança se há cultivares com essa característica no portfólio.

Vale lembrar que algumas culturas são, naturalmente, mais eficientes no uso da água, como sorgo e milho se comparados à soja, por exemplo.

Controle de ervas daninhas

A perda de água do solo por meio da transpiração das plantas daninhas pode reduzir seriamente a quantidade de água disponível para as culturas.

Consequentemente, práticas de controle das daninhas oportunas e eficazes são essenciais. A presença de uma espessa camada de resíduos (palha) na superfície é uma forma muito eficaz de controlar as principais plantas daninhas.

É claro que o manejo mais conhecido com herbicidas também é altamente indicado Não se esqueça dos produtos pré e pós-emergentes, de começar a cultura “no limpo” e a rotação de mecanismos de ação para um manejo eficaz e que não selecione indivíduos resistentes aos herbicidas.

Uso de aminoácidos e extratos de algas

O uso de substâncias alternativas na agricultura vem aumentando a cada dia, seja pela sua eficiência ou por questões de sustentabilidade do ambiente produtivo e das condições ambientais como um todo.

Dois grandes exemplos disso são os aminoácidos e os extratos de algas que vem provando eficiência em diversos trabalhos científicos e também em escala comercial por meio de novos produtos do mercado.

Os aminoácidos já são constituintes básicos das plantas, mas também têm seu valor quando aplicados nas mesmas.

Dentre outros benefícios, eles resultam em maior tolerância ao estresse hídrico devido ao maior potencial de desenvolvimento do sistema radicular e outros mecanismos. Normalmente os aminoácidos são aplicados via foliar nos estádios críticos da cultura.

Os extratos de algas marinhas têm efeitos benéficos no crescimento e adaptação ao estresse, sendo fontes de vitaminas, glicoproteínas, aminoácidos e estimulantes naturais.

Dessa maneira, elas melhoram a resposta das plantas por alterações fisiológicas, bioquímicas e expressão de genes nas plantas.

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Aplicação de fertilizantes

Uma melhor nutrição das plantas pode efetivamente aliviar os efeitos adversos da seca por uma série de mecanismos.

Por exemplo, podemos começar o assunto com o já conhecido efeito do fósforo, que ajuda particularmente em condições secas, aumentando o desenvolvimento das raízes e, assim, permitindo uma maior absorção de água, enquanto o nitrogênio tende a aumentar a produção de folhagem e, portanto, a transpiração na presença de água adequada.

A correção adequada do solo, neutralizando o alumínio tóxico e fazendo a gessagem e fosfatagem quando necessário, é básico para qualquer manejo da nutrição, especialmente no Brasil.

Além disso, é importante saber que o estresse hídrico resulta no aumento das espécies reativas de oxigênio (ROS) devido ao acúmulo de energia, aumentando o efeito foto-oxidativo e os danos à membrana do cloroplasto.

A aplicação de macronutrientes como N, K e Ca reduzem a toxicidade de ROS, aumentando a concentração de antioxidantes nas células das plantas.

Esses antioxidantes eliminam as ROS e reduzem o foto-oxidação, mantendo a integridade da membrana do cloroplasto e aumentando a taxa fotossintética na cultura.

Da mesma forma, a aplicação de alguns nutrientes (Zn, Si e Mg) também aumentam a concentração de antioxidantes e melhora a tolerância à seca nas plantas.

Em outro mecanismo, nutrientes como P (já aqui citado), K, Mg e Zn melhoram o crescimento da raiz que, por sua vez, aumenta o transporte de água para a planta, ajudando na regulação estomática e potencializando a tolerância ao estresse hídrico.

A aplicação de nutrientes como potássio e o cálcio ajuda a manter o alto potencial de água nos tecidos sob condição de seca e amenizar os danos por osmose.

Os micronutrientes como Cu e B aliviam os efeitos adversos da seca indiretamente, ativando os processos fisiológicos, bioquímicos e metabólicos nas plantas.

Estresse hídrico e infiltração de chuva no solo

Em muitas regiões produtoras do Brasil temos a chuva irregular: períodos com chuvas intensas e grandes períodos de seca.

Fazer com que o solo “guarde” boa parte dessa água para os períodos de estiagem é essencial para conseguir minimizar prejuízos que podem haver pelo estresse hídrico.

É aí que entramos no assunto infiltração. Primeiramente, a infiltração depende da existência de porosidade suficiente na superfície do solo para que a chuva se infiltre.

Quando a porosidade da superfície do solo é muito baixa para permitir a percolação da água, temos uma permeabilidade lenta, fazendo com que ela seja perdida por escoamento.

A porosidade do solo superficial pode ter sido reduzida pelo entupimento dos poros com partículas que se desprenderam dos agregados do solo sob o impacto das gotas de chuva, ou pela deposição de partículas na superfície do solo, formando como se fossem “crostas impermeáveis”.

Posteriormente, é preciso que o solo possua uma boa estrutura, ou seja, que possua micro e macroporos.

Enquanto os macroporos garantem o oxigênio e que a água caminhe até seu destino final, como o lençol freático, os microporos guardam a água e são essenciais para fornecer água para as plantas e resultar em uma boa nutrição da lavoura.

Essas porosidades podem ser naturalmente baixas ou podem ter sido reduzidas por práticas agrícolas, como o preparo convencional do solo e a compactação do mesmo pelo tráfego de máquinas.

O preparo convencional quebra as “crostas” superficiais e realmente aumenta a porosidade da superfície em um primeiro momento.

Porém, esse aumento é apenas temporário. É como se esse preparo do solo precisasse ser repetido após cada chuva.

Isso porque essa prática acarreta no rompimento dos espaços dos poros no solo, além de acelerar a perda de matéria orgânica do solo, levando a uma deterioração progressiva da arquitetura do solo e à redução do número e da estabilidade dos poros que permitem o crescimento das raízes e o movimento da água da chuva.

O Sistema de Plantio Direto, que inclui cobertura sobre o solo, rotação de culturas e o não revolvimento do solo contribuem diretamente para isso

A porosidade da superfície do solo é melhor mantida protegendo-a primeiro da ação das gotas de chuva por meio de uma cobertura protetora. O solo coberto também evita a perda de matéria orgânica e mantém a umidade do sistema por muito mais tempo.

A rotação de culturas, se bem realizada, inclui plantas com diferentes tipos de raízes, produzindo diferentes tamanhos de poros no solo.

Os exsudados das raízes de diferentes culturas também são agregadores de partículas, estabilizando esses poros em agregados e construindo uma boa estrutura de solo.

Fica claro que os danos causados pelo estresse hídrico nas plantas podem ser atenuados através do favorecimento e melhor desenvolvimento do sistema radicular, seja por cultivares especiais para isso ou pela melhor nutrição da cultura.

Além disso, outras importantes opções de práticas para a minimização de prejuízos são o plantio direto e o manejo adequado da cultura.

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