CONDIÇÕES CLIMÁTICAS X CULTURA DA SOJA
A temperatura ideal para o crescimento e desenvolvimento da soja gira em torno de 30°C. Temperaturas acima de 38°C, no início do crescimento, são prejudiciais, podendo reduzir a formação de nós, induzir o florescimento precoce reduzir a altura da planta, e gerar queda de flores e vagens, causando reduções substanciais na produtividade. Esse problema pode se agravar se houver deficiência hídrica e/ou fotoperiódica, durante a fase de crescimento (CENTURION et al., 2008).
A qualidade de grãos e sementes também é influenciada por altas temperaturas, pois esta condição acelera a maturação e reduz a quantidade e tamanho dos grãos e sementes. Todavia, a tolerância à altas temperaturas pode variar conforme a cultivar.
Outro aspecto climático importante é a precipitação. Para completar o ciclo, a soja necessita entre 450 mm e 800 mm. Dpendendo dessas condições hídricas, o manejo da cultura e a duração do ciclo são afetados, variando de 100 a 120 dias (precoces) até 155 a 160 dias (tardias) (CENTURION et al,. 2008).
Déficits hídricos expressivos durante a floração e o enchimento dos grãos provocam alterações fisiológicas com queda prematura de flores e abortamento de vagens. Por outro lado, altos volumes de chuvas na fase final de enchimento e colheita prejudicam a qualidade das sementes.
Diante disso, nas últimas safras, produtores têm observado vários problemas no enchimento de grãos e na formação de sementes, como “chochamento de grãos” com vagens vazias, abertura anormal de vagens imaturas, pré-germinação e deterioração precoce de sementes dentro da vagem, conforme Figura 1.






Diferentes anormalidades em vagens de soja safra 2019/2020
A semente de soja requer 50% do seu peso em água para iniciar o processo de germinação, assim, períodos longos de estiagem, seguido de períodos com excesso de chuvas podem causar abertura das vagens, permitindo a embebição das sementes e, consequente germinação ainda na vagem. Esta característica tem ocorrência acentuada em determinadas cultivares.
A abertura das vagens precocemente também é uma porta de entrada para pragas e doenças, prejudicando a qualidade das sementes que, em geral, pode ser influenciada pelo manejo da adubação na cultura e condições ambientais durante o desenvolvimento das sementes (MASCARENHAS et al., 2013).
Trabalhos demostraram que, períodos de veranico de 20 a 30 dias seguido de chuvas, provocam a retomada rápida de enchimento dos grãos. O aumento do volume dos grãos é acelerado se comparado com o desenvolvimento da vagem, o que leva a abertura da mesma em alguns casos. Esta característica é comum em determinadas cultivares e também é influenciada pela deficiência de potássio (K) nas plantas.
A deficiência do K aparece inicialmente nas folhas, com amarelecimento das bordas. Posteriormente são observadas manchas nas vagens, podendo afetar a qualidade de sementes. Além disso, a deficiência de K também causa a abertura de vagens, devido à falta de elongação celular, com germinação e deterioração das sementes em seu interior (MASCARENHAS et al., 2013).
Para que haja a elongação normal das células é necessário o afrouxamento da parede celular regulado pelo o AIA (Ácido Indol Acético) e um acúmulo de solutos (K e açúcares redutores) no vacúolo para criar um potencial osmótico interno. Então, haverá o afrouxamento e o aumento da pressão de turgor, pré-requisitos para o crescimento celular. Desta forma, dentre as diversas funções relacionadas ao potássio, o controle da osmorregulação é um dos processos dependentes deste nutriente, ligado a elongação celular (FAQUIN, 2005).
NUTRIÇÃO DE PLANTAS
Plantas de soja são consideradas exigentes em nutrientes, sendo necessária uma adubação equilibrada para seu bom desenvolvimento. Cada elemento tem uma função específica na planta (Tabela 1). Aliado a baixa disponibilidade nutricional, estresses ambientais comuns em algumas regiões do país têm provocado e intensificado distúrbios fisiológicos nas plantas de soja. Além do potássio, citado anteriormente, a deficiência de nutrientes como cálcio e zinco bem como o desbalanço da relação Ca+Mg/K tem sido relacionadas a problemas como enquarquilhamento, abertura de vagens, deterioração precoce das sementes, ocorrência de grãos enrugados, além da baixa qualidade de sementes em campos de produção (NEPOMUCENO et al,. 2018).
Os sintomas de deficiência mais comuns nas vagens e sementes são decorrentes da deficiência de nutrientes pouco móveis como boro e cálcio, fazendo-se necessária a adubação foliar em épocas específicas para atender as demandas específicas (FAQUIN, 2005).
Elemento | Função na planta |
B | Importante no transporte de açúcares, divisão e crescimento celular. |
Co | Essencial para fixação de N, fonte de Vitamina B12. |
Cl | Resistência a doenças, regulação do turgor e reações fotossintéticas. |
Cu | Componente de enzimas; envolvido na fotossíntese. |
Fe | Componente de enzimas, essencial para síntese de cloroplastos e fotossíntese. |
Mo | Atua no metabolismo do nitrogênio, essencial para a fixação do N, componente de enzimas, resistência a pragas e doenças. |
Mn | Atividade de enzimas, fotossíntese e metabolismo do N. |
ZN | Componente de muitas enzimas, essencial para o balanço hormonal, acúmulo de reservas e desenvolvimento das sementes. |
É importante salientar que a boa disponibilidade do cálcio está relacionada ao melhor crescimento de plantas, melhor arranjo estrutural das paredes celulares e tegumento de sementes, tendo efeito sobre sua rigidez, o que impediria uma possível infecção por fungos.
O boro, por sua vez, atua na estruturação da parede celular com as substâncias pépticas, conferindo maior resistência física e na absorção e transporte do potássio, com isso, a aparente deficiência do potássio pode estar relacionada à deficiência do Boro. Além disso, o boro é indispensável na polinização atuando na germinação do grão de pólen, elongação do tubo polínico e fecundação da flor (NAKAO et al., 2018).
O molibdênio (Mo) também tem papel fundamental no metabolismo das plantas, sendo componente estrutural de enzimas e participante ativo na fixação biológica de Nitrogênio. A forma mais eficiente para aumentar a concentração de molibdênio nas sementes é por enriquecimento via planta mãe. Esse método alternativo apresenta resultados positivos no aumento da fixação biológica de Nitrogênio e na produtividade da soja. É importante ressaltar que os solos brasileiros são ricos em óxidos de ferro e de alumínio, ácidos com baixa disponibilidade de Mo. Além disso, a adição de Mo ao solo é pouco eficaz, pois haverá adsorção aos colóides do solo, reduzindo sua disponibilidade às plantas. A forma mais eficaz para aplicação deste nutriente é via adubação foliar ou tratamento de sementes (JACOB NETO, et al., 1998).

A adubação foliar está em crescente evolução e com o desenvolvimento de novos formulados, fonte de vários nutrientes, tem se tornado uma ferramenta indispensável para o aumento da produtividade. Assim, a prática da adubação foliar com diferentes elementos, tem sido amplamente recomendada na fase de formação de sementes, para corrigir deficiências e aumentar as concentrações dos nutrientes nas folhas e na semente produzida.
DOENÇAS
A severidade de algumas doenças pode ser influenciada por diversos fatores, dentre eles a condição nutricional da planta. A disponibilidade equilibrada de nutrientes mostra-se eficiente no controle de diversas doenças, podendo afetar a reprodução e a sobrevivência de microrganismos, bem como alterar os mecanismos fisiológicos e morfológicos de resistência da planta.
Umas das doenças mais comuns em soja é a Antracnose, relacionada com a abertura precoce das vagens, germinação e deterioração das sementes de soja. O uso de sementes contaminadas e a ocorrência de deficiências nutricionais, principalmente de potássio, são causas prováveis do aumento considerável da doença. As vagens infectadas nos estádios R3-R4 adquirem coloração castanho escura a negra e ficam retorcidas com queda de vagens e deterioração precoce das sementes (ZAMBIAZZI, et al., 2017).
Outras doenças comuns de final de ciclo e acentuadas com as variações climáticas são: Seca da haste ou vagens – Phomopsis e Mancha púrpura – Cercospora. Períodos prolongados de alta umidade somados a condições de alta temperatura na fase de maturação das sementes podem favorecer o aparecimento da Phomopsis. Esta doença é caracterizada pelo aparecimento de pontuações pretas (picnídios) nas hastes e vagens (HENNING, 2009).
Em relação à Cercospora, sua disseminação é acentuada em regiões quentes e chuvosas. Nas vagens aparecem pontuações vermelhas que evoluem a castanho-avermelhadas e nas sementes aparecem manchas púrpuras.
Visando a redução na ocorrência de doenças, a nutrição mineral de plantas pode atuar aumentando o nível de defesa, reduzindo o ataque e a severidade das doenças. Isso porque a vagem e tegumento das sementes são barreiras naturais ao ataque de pragas e patógenos, e sua composição química, embora definida geneticamente, pode ser influenciada pela adubação fornecida. Alguns matérias genéticos que apresentam maior teor de lignina no tegumento, têm maior resistência mecânica, dificultado entrada de patógenos (HENNING, 2009).
Um exemplo é a utilização de sementes enriquecidas com molibdênio e sua ligação com o aumento da resistência de plantas. Em feijão, plantas originadas de sementes com maiores concentrações de Mo, são mais resistentes às doenças e pragas comparadas a plântulas provenientes daquelas com baixos teores (PRIETO, 2017).
Além da nutrição balanceada, devem ser tomadas outras formas de controle como o uso de sementes sadias, tratamento de sementes, manejo adequado utilizando sistemas de plantio direto, rotação de culturas, e aplicações de fungicidas recomendados.
Antracnose (Colletrotrichum truncatum) Seca da haste e da vagem (Phomopsis spp) Manha Púrpura (Cercospora kikuchii) Manha Púrpura (Cercospora kikuchii)
CONCLUSÕES
A busca de elevadas produtividades na cultura da soja é cada dia mais desafiadora para o produtor, que está sujeito a constantes variações climáticas que podem prejudicar o desenvolvimento da cultura.
No entanto, alguns fatores podem e devem ser controlados pelo agricultor, a fim de reduzir os potenciais riscos. Uma nutrição adequada de plantas e o manejo correto de pragas e doenças são exemplos importantes.
Assim, é possível minimizar problemas causados por fatores ambientais e melhorar a produtividade da cultura da soja.
Assiste a live completa no nosso canal do Youtube.
Se preferir, escute no nosso Podcast
Deixe nos comentários suas dúvidas ou sugestões.